Prospenomia

Prospenomia (Prospenomics em inglês) é o estudo da prosperidade e seus geradores, a fim de traçar um caminho para a Pós-Escassez. Através de uma abordagem económica e social que transcende os paradigmas convencionais da teoria económica conhecida, que tem uma abundância relativamente baixa à custa de um trabalho árduo e ineficiente, e não consegue distribuir o bem-estar entre os homens, dando pouca ou nenhuma atenção aos resíduos e caos gerados no planeta. O campo de estudo da porspenomia, desenvolvido por Luiz Pagano, surge da necessidade urgente de repensar os modelos económicos e sociais atuais e para isso devemos estudar todas as formas conhecidas de prosperidade, desde decisões inteligentes tomadas na antiguidade, bem como as ficções de Gene Roddenberry de Star Trek, que vislumbra um futuro em em que a prosperidade é abundante, não se usa mais frações monetárias para a troca de bens e serviços, e as pessoas trabalham para satisfazer seus talentos e ambições de elevação pessoal; ou também a de Buckminster Fuller, em que a prosperidade não se limitava apenas à acumulação de riqueza material ou ao crescimento económico, mas era uma questão de garantir bem-estar e sustentabilidade para todas as formas de vida no planeta. BASIC ARGUMENT OF PROSPENOMICS/PROSENOMY by Luiz Pagano, Setembro de 2007

domingo, 12 de outubro de 2025

Prospenomics Da Ficção à Realidade


A Ideia que Nunca Me Abandonou

Tudo começou na faculdade. Era o momento de escrever minha monografia de conclusão de curso, e como todo estudante, eu queria propor algo que fosse original, relevante — e, acima de tudo, transformador. A primeira ideia que me ocorreu foi simples, mas ousada: se a ficção científica inspirou Santos=Dumont a inventar o avião, por que não usamos dela para reinventar a administração das economias, especialmente a administração pública?


A proposta parecia fazer sentido para mim. Afinal, Santos=Dumont lia Júlio Verne, sonhava com máquinas voadoras e depois as construiu. Ele não apenas se inspirou — ele realizou. Então por que não aplicar esse mesmo raciocínio à gestão pública? Por que não olhar para as sociedades imaginadas em obras como Star Trek, Fundação ou Nosso Lar* , e extrair delas modelos mais eficientes, éticos e humanos?

*Nota importante: Embora Nosso Lar seja frequentemente citado ao lado de obras de ficção científica por sua descrição de uma sociedade organizada e espiritualizada, é fundamental reconhecer que não se trata de uma obra de ficção científica, mas sim de um texto da doutrina espírita, psicografado por Chico Xavier. Ele descreve um plano espiritual que faz parte do universo de crenças do espiritismo, e sua abordagem reflete valores e princípios espirituais, não especulativos ou científicos..

Apresentei a ideia aos examinadores da banca. E o que recebi foi... risada. Todos acharam a proposta ridícula, exceto um: o professor Mercier**. Ele não apenas ouviu com atenção, como me incentivou a continuar pensando sobre aquilo, mesmo que não fosse o tema aceito para a monografia. Foi um gesto que nunca esqueci.

**Nota pessoal: A UNIFIEO é minha Alma Mater, e o Professor Decano Antônio Pacheco Mercier foi — e continua sendo — meu mentor intelectual e humano. Foi ele quem enxergou valor na proposta da Prospenomics quando muitos a descartaram. Osasco, cidade que me ofereceu a chance de estudar e prosperar,  que abriga a UNIFIEO, é também terra do primeiro voo de aeroplano da América Latina, realizado por Dimitri Sensaud de Lavaud em 1910. Apesar desse feito histórico, Osasco é frequentemente subjugada pela nossa síndrome de vira-latas, que nos faz ignorar ou minimizar nossas próprias conquistas.

É justamente contra essa mentalidade que Prospenomics se levanta — para mostrar que ideias transformadoras podem surgir de qualquer lugar, inclusive de onde menos se espera.

No fim das contas, tive que engavetar a ideia. A monografia aprovada foi sobre o papel da CACEX na exportação brasileira, baseada no meu estágio no departamento de câmbio do Banco Noroeste. Um trabalho técnico, burocrático, sem alma. Fiz o que era necessário para concluir o curso, mas a chama da Prospenomics — como mais tarde batizei minha proposta — nunca se apagou dentro de mim.

Com o advento dos blogs e das plataformas digitais, finalmente encontrei um espaço para publicar minhas ideias. Comecei a escrever sobre Prospenomia, sobre sociedades pós-escassez, sobre como a ficção científica pode ser usada como laboratório de políticas públicas. E aos poucos, percebi que não estava sozinho. Outros também buscavam alternativas, sonhavam com novos modelos, queriam mais do que apenas sobreviver dentro de sistemas falhos.

Este livro é o resultado dessa jornada. Uma tentativa de reunir reflexões, provocações e propostas concretas para uma nova forma de pensar a administração pública — inspirada não apenas pela razão, mas também pela imaginação.

Porque, no fim das contas, toda grande transformação começa com uma ideia que parece ridícula — até que alguém a realiza.

Astrônomo, Astronauta e Astrólogo

Muito antes de construir cidades, domesticar animais ou escrever histórias, os primeiros hominídeos devem ter se maravilhado com o céu estrelado. Imagine o impacto de olhar para cima, em meio à escuridão da savana africana, e ver aquele manto pontilhado de luzes misteriosas. O céu era um espetáculo silencioso, constante, e ao mesmo tempo cheio de movimento. Era o primeiro grande quadro negro da humanidade — e os astros, seus primeiros professores.

A observação dos astros não era apenas contemplativa. Ela oferecia pistas sobre o mundo ao redor. Os nossos ancestrais perceberam que certos padrões celestes precediam chuvas, tempestades ou dias de sol intenso. Com o tempo, entenderam que o movimento das estrelas e do Sol indicava a chegada do verão ou do inverno, a época de plantar ou colher, de migrar ou se abrigar. O céu tornou-se um calendário natural, um sistema de orientação, uma bússola cósmica. E assim, o estudo dos astros tornou-se uma ferramenta de evolução.

Com o passar dos séculos, esse saber se refinou. Surgiram os primeiros astrônomos, que dedicavam suas vidas a entender os corpos celestes com precisão matemática. Eles criaram mapas do céu, calcularam órbitas, previram eclipses. A astronomia tornou-se uma ciência fundamental para a navegação, para a agricultura e para o próprio entendimento da nossa posição no universo.

Mas nem sempre o céu foi visto com olhos científicos. Durante a Idade Média, os astros passaram a ser interpretados como símbolos mágicos. Surgiu o astrólogo, aquele que via poesia nos astros. Ele não buscava apenas entender o movimento dos planetas, mas sim traduzir seus significados ocultos, relacionando-os à vida humana, aos destinos individuais, às emoções e aos ciclos espirituais. Embora a astrologia tenha sido marginalizada pela ciência moderna, não se pode negar que ela preservou o fascínio pelo céu em tempos de escuridão intelectual. E mais: foi justamente essa busca metafísica que, mais tarde, daria origem à química, à física e à psicologia.

Então, veio o século XX. E com ele, um novo tipo de personagem celeste: o astronauta. Se o astrônomo observava os astros e o astrólogo os interpretava, o astronauta foi até eles. Em 1961, Yuri Gagarin tornou-se o primeiro ser humano a orbitar a Terra. Em 1969, Neil Armstrong pisou na Lua. A humanidade, pela primeira vez, deixou de apenas olhar para o céu — e passou a caminhar sobre ele. O astronauta representa a coragem de transformar sonho em ação, de atravessar fronteiras antes consideradas intransponíveis.

Esses três personagens — o astrônomo, o astrólogo e o astronauta — são arquétipos que habitam nossa imaginação coletiva. Cada um deles representa uma dimensão essencial da experiência humana:

1-O astrônomo, com sua busca racional e científica.
2-O astrólogo, com sua sensibilidade simbólica e poética.
3-O astronauta, com sua ousadia realizadora e transformadora.

Santos Dumont, por exemplo, pode ser visto como um astrônomo e astronauta da aviação. Ele estudou os princípios do voo, mas também construiu os dispositivos que o tornaram possível. Inspirado por Júlio Verne, Dumont mostrou que a ficção científica pode ser o primeiro passo para a inovação concreta.

E é justamente aí que entra o conceito de Prospenomics. Se queremos construir uma sociedade baseada na prosperidade coletiva, na abundância e na realização compartilhada, talvez devamos olhar para esses três personagens como guias. Será que o astrônomo, o astrólogo e o astronauta podem nos ajudar a atingir uma sociedade prospenômica?

Os Três Personagens que Inspiram a Ciência

Se no primeiro capítulo vimos como o astrônomo, o astrólogo e o astronauta representam dimensões essenciais da experiência humana — conhecimento, poesia e ação — neste segundo capítulo exploramos como esses arquétipos se manifestam na prática científica e nos avanços da civilização.

Ao longo da história, grandes descobertas não vieram apenas da razão pura ou da experimentação cega. Elas surgiram quando esses três personagens se encontraram dentro de um mesmo indivíduo, revelando que o progresso humano é, muitas vezes, fruto de uma alquimia entre sonho, observação e coragem.

Kekulé e o Sonho do Uroboros

O químico Friedrich August Kekulé, por exemplo, descobriu a estrutura da molécula de benzeno não por meio de cálculos frios, mas por meio de um sonho simbólico. Ele viu uma serpente mordendo a própria cauda — o símbolo do Uroboros, antigo arquétipo da eternidade e do ciclo infinito. Essa imagem o levou a conceber a estrutura cíclica do benzeno, algo que revolucionou a química orgânica.

Kekulé, nesse momento, foi astrólogo e astrônomo: interpretou um símbolo metafísico e o traduziu em uma estrutura científica. Ele viu poesia nos astros e, ao mesmo tempo, aplicou lógica e observação para transformar esse insight em conhecimento concreto.

Mendeleiev e o Gosto da Matéria

Outro exemplo fascinante é o de Dmitri Mendeleiev, criador da tabela periódica. Para classificar os elementos químicos, ele não se limitava a observações externas — ele colocava substâncias na boca, sentia o gosto, explorava fisicamente suas propriedades. Esse gesto, hoje impensável em laboratórios modernos, revela uma mentalidade de astronauta: alguém que se lança na experiência direta, que toca, sente, arrisca.

Mas Mendeleiev também foi astrônomo: ao organizar os elementos em padrões e prever a existência de substâncias ainda não descobertas, ele demonstrou uma visão sistêmica, quase cósmica, da matéria. Ele não apenas explorou — ele compreendeu.

A Fusão dos Três na Ficção Científica

Esses exemplos mostram que os grandes avanços não vêm de uma única abordagem, mas da interação entre os três personagens. E é justamente na ficção científica que essa fusão acontece com mais clareza.

Em obras como Star Trek, Fundação de Isaac Asimov ou Solaris de Stanisław Lem, vemos cientistas que sonham, exploram e interpretam. A ficção científica permite que o astrólogo imagine mundos possíveis, que o astronauta os explore, e que o astrônomo os compreenda. Ela é o palco onde poesia, ciência e ação se encontram.

Por isso, quando a ficção científica é aplicada à realidade, esses três personagens se interagem. Eles deixam de ser arquétipos isolados e tornam-se forças complementares, capazes de transformar sociedades, reinventar políticas públicas e inspirar novos modelos econômicos — como o que propomos com Prospenomics.

A pergunta que se impõe agora é: Como podemos usar essa tríade simbólica para construir uma sociedade verdadeiramente prospenômica?

A Administração Pública que Ainda Não Inventamos

Se os capítulos anteriores mostraram como os arquétipos do astrônomo, do astrólogo e do astronauta inspiraram avanços científicos e sociais, agora é hora de olhar para o coração da nossa convivência coletiva: a administração pública. E aqui, infelizmente, a criatividade parece ter ficado para trás.

Vivemos em um mundo onde os modelos de gestão social mudam muito pouco ao longo dos séculos. A democracia, por exemplo, é considerada o melhor sistema político que temos — e de fato, desde Solón e Clístenes, ela representa um avanço em relação ao autoritarismo. Mas será que ela é suficiente? Mesmo sendo milenar, a democracia ainda carrega falhas profundas, como a manipulação de massas, o clientelismo e a baixa representatividade real.

O mesmo vale para os sistemas contábeis e bancários. O método de partidas dobradas, criado por Luca Pacioli no século XV, ainda é a base da contabilidade moderna. O sistema bancário, surgido no século XVI, continua operando com lógicas de escassez, juros e concentração de capital. Por que nunca usamos ideias realmente avançadas para reinventar esses sistemas vitais?

Hoje, o liberalismo gera riqueza, mas não prosperidade. Ele favorece o acúmulo individual, mas ignora que a existência de núcleos pobres torna a riqueza dos demais ineficiente e frágil. Já o comunismo e o socialismo, em suas versões históricas, falham ao tentar distribuir uma riqueza que nem sequer foi gerada — criando escassez em vez de abundância.

É nesse cenário que surge o conceito de Prospenomics: uma proposta de sociedade pós-escassez, onde a prosperidade é compartilhada e o progresso é medido por realizações coletivas. Em vez de competir por recursos limitados, todos se beneficiam de forma harmônica, com sistemas que incentivam a colaboração, a inovação e o bem-estar mútuo.

Mas para isso, precisamos pensar fora da caixa. Precisamos olhar para os modelos de sociedade que já foram imaginados — mesmo que apenas na ficção.



Star Trek e Nosso Lar: Modelos Alternativos

Gene Roddenberry, criador de Star Trek, imaginou uma sociedade onde não há dinheiro, não há fome, e o conhecimento é o bem mais valioso. Os líderes são escolhidos por mérito, ética e sabedoria. A Federação dos Planetas Unidos é um exemplo de administração pública baseada em valores universais, ciência e diplomacia.

No outro extremo, temos a sociedade espiritual de Nosso Lar, descrita por Chico Xavier. Lá, os líderes mais importantes são justamente aqueles que têm mais tempo para os humildes. A administração é feita com base na empatia, no serviço e na evolução moral — não no poder ou na autopromoção.

Esses modelos, embora fictícios ou espirituais, nos oferecem pistas valiosas. Eles mostram que é possível imaginar sistemas onde a administração pública não seja marcada por três grandes males que hoje nos afligem:

1-Inepcia – Muitos políticos entram na vida pública não por competência, mas por falta de opções no mercado de trabalho.

2-Auto-serviência – Leis são votadas com foco no benefício próprio, não no bem comum.

3-Corrupção – Um mal endêmico que mina a confiança, os recursos e a esperança da população.

Se não ousarmos imaginar algo novo, jamais sairemos desse ciclo vicioso. Precisamos de uma administração pública que seja inspirada por astrônomos (que compreendem), por astrólogos (que inspiram) e por astronautas (que realizam). Precisamos de líderes que pensem como cientistas, sintam como poetas e ajam como exploradores.

Prospenomics não é apenas uma teoria — é um convite. Um chamado para que deixemos de apenas sobreviver e passemos a projetar o mundo que queremos viver.

Exemplos de Ficções para uma Sociedade Prospenômica

O conceito de utilizar a ficção como um "laboratório de ideias" que nos leve para uma sociedade Prospenomica é extremamente potente. Prospenomics, de fato, se nutre da capacidade única da ficção de simular cenários complexos, permitindo-nos analisar as consequências sociais, econômicas e éticas de novos modelos de administração pública e gestão de recursos.

Ao nos colocarmos na posição do Astrônomo (observando as possibilidades), do Astrólogo (analisando os impactos) e do Astronauta (o agente que implementa a mudança), as narrativas que se seguem oferecem planos conceituais para ir além dos paradigmas atuais de escassez e competição. Abaixo, exploramos o primeiro exemplo dessa tríade, destacando como uma sociedade ficcional pós-escassez nos fornece pistas concretas:

1. Star Trek (Jornada nas Estrelas): O Blueprint da Prospenomics

A série Star Trek é mais do que ficção científica; ela é o modelo operacional por excelência para a Prospenomics. De fato, foi esta saga que me fez criar o conceito de Prospenomics no final dos anos 1980, solidificando a visão de uma sociedade de Pós-Escassez, onde o aumento astronômico de recursos, impulsionado pela exploração espacial e tecnologias como os replicadores de matéria e a energia limpa abundante, aniquilou a escassez material.

​A grande lição de Star Trek para a administração pública e econômica reside na mudança do foco humano: a motivação fundamental migra da sobrevivência e da acumulação de riqueza para o autodesenvolvimento, a curiosidade intelectual e a exploração do desconhecido.

​A Substituição do Dinheiro como Força Motriz:

O aspecto mais radical e inspirador de Star Trek é a substituição do sistema monetário. Isso me inspirou a focar em políticas que garantam a Segurança Material Básica (SMG) de forma plena e incondicional. Ao assegurar que habitação, alimentação, saúde e educação de qualidade sejam direitos inalienáveis e automaticamente supridos, a sociedade libera a energia humana da escravidão da necessidade econômica. O trabalho, então, transforma-se em vocação, trabalho criativo, científico e social, que transcende a mera equação de salário por sobrevivência.

​A Riqueza no Investimento em Conhecimento:

A Frota Estelar, o motor da Federação, é essencialmente uma vasta agência de pesquisa e exploração financiada integralmente pela sociedade. Isso estabelece um princípio fundamental da Prospenomics: o maior investimento de uma sociedade próspera deve ser em Ciência, Arte e Educação, vistas não como meras ferramentas para impulsionar o PIB, mas como fins civilizatórios em si mesmos. Nessa visão, a "riqueza" de um cidadão não é medida pelo saldo bancário, mas sim pelo seu acesso ilimitado ao conhecimento e às oportunidades de desenvolvimento pessoal.

​A Ética da Não-Intrusão (A Primeira Diretriz):

A famosa regra que proíbe a interferência no desenvolvimento de culturas menos avançadas pode ser traduzida para a administração pública como um princípio de Não-Intrusão e Respeito à Autonomia Local. Um governo prospenômico deve, portanto, fornecer a plataforma para a prosperidade (a SMG, a educação, a saúde) e criar as condições de abundância, mas deve resistir ativamente à manipulação ou ao controle excessivo das escolhas individuais e comunitárias. O governo garante a base, mas a autodeterminação floresce a partir dela.

2 - The Mandibles: A Family, 2029-2047



É fascinante como "The Mandibles" nos oferece uma lente de aumento para questões críticas da nossa economia e sociedade, apresentando soluções distópicas que, ironicamente, contêm ideias tentadoras.

​Em um texto mais fluido, podemos dizer que o livro de Lionel Shriver funciona como um alerta sobre três questões interligadas: a fragilidade da moeda, a ameaça da inflação e o perigo do controle centralizado.

​O Alerta de "The Mandibles"

​O romance nos avisa que a confiança na moeda e nas instituições é o alicerce de tudo. Quando o dólar colapsa e é substituído pelo Bancor (uma moeda supranacional, ou um novo sistema), a confiança se quebra, e a estrutura social desmorona. O aviso é claro: a estabilidade financeira é menos garantida do que parece.

​As Ideias Tentadoras do FleX e do Bancor

​No entanto, as soluções tecnológicas e monetárias do livro, embora impostas pela crise, levantam questões que poderiam ser benéficas na nossa sociedade atual:

​O Fim da Lavagem de Dinheiro e do Roubo Descontrolado:

​A ascensão de um sistema de moedas digitais e alternativas (como o Bancor), especialmente se fosse baseado em uma arquitetura de blockchain ou totalmente rastreável, poderia, em teoria, eliminar a lavagem de dinheiro e o roubo em grande escala. Se o dinheiro não existe mais como notas físicas ou como meros ativos bancários não rastreáveis, cada transação poderia ser registrada. Isso dificultaria enormemente a corrupção e a ocultação de riqueza ilegal, um flagelo que assola a política mundial.

​A Descentralização e a Perda de Controle do Governo:

​No romance, a criação do Bancor e o uso do FleX acabam centralizando o controle nas mãos de um governo autoritário (especialmente na segunda metade do livro).
​O Conceito Tentador: Mas a ideia central que o livro nos faz ponderar é o oposto: o que aconteceria se o dinheiro não fosse mais controlado por nenhum governo? O Bancor, como moeda supranacional ou digital, ecoa o debate atual sobre criptomoedas e a desdolarização. Se o dinheiro for totalmente descentralizado e baseado em algoritmos (e não nas promessas de um banco central com dívidas altíssimas), ele seria imune à impressão descontrolada, à manipulação política e, teoricamente, às crises de dívida soberana que vemos hoje.

​Conclusão: Uma Troca Perigosa

​O livro, portanto, nos apresenta um dilema irônico: a tecnologia monetária poderia oferecer a solução para a corrupção e a instabilidade da dívida – trazendo um potencial "alívio" moral e fiscal – mas, se mal implementada, ela pode facilmente se transformar em uma ferramenta de vigilância total e de controle ainda maior pelo Estado, substituindo a tirania do dólar pela tirania do sistema de rastreamento total. O aviso de Shriver não é apenas sobre o dinheiro, mas sobre o custo da segurança em troca da liberdade.

Outras Ficções 

Da mesma forma que Star Trek (1) apresenta uma sociedade pós-escassez onde a tecnologia elimina a pobreza e estabelece uma ética de responsabilidade coletiva, e que Nosso Lar (16) mostra uma administração espiritual onde os mais preparados atendem aos mais simples com dignidade, muitos outros universos fictícios oferecem modelos que podem orientar soluções reais. 


Em Fundação, de Isaac Asimov (3), surge um governo baseado na previsão científica do comportamento coletivo, ideia que hoje poderia ser traduzida em planejamento público guiado por inteligência artificial. Já em Crônicas Marcianas, de Ray Bradbury (4), vemos cidades pequenas e autônomas que rejeitam o gigantismo urbano, propondo um modelo de decentralização social. 

Wakanda, do universo Pantera Negra (5), representa uma tecnocracia ética onde ciência e poder são usados para proteger a coletividade e não para explorar. Em Avatar (6), os Na’vi vivem uma economia biocêntrica onde a natureza é parte integrante da estrutura produtiva, e não um recurso a ser explorado. 

Até Os Smurfs (7), com sua organização simples por vocação — o cozinheiro cozinha, o construtor constrói — sugerem um sistema educacional e profissional baseado em aptidão e não em imposição. A vila dos hobbits em O Senhor dos Anéis (8) apresenta uma sociedade feliz precisamente por ser despretensiosa, mostrando que a simplicidade pode ser uma forma de prosperidade. 

Finalmente chegamos ao universo próspero de "The Culture" (9), obra do autor escocês Iain M. Banks. Ela oferece um dos modelos mais sofisticados de uma sociedade pós-escassez da ficção científica, bem como lições profundas e radicais para a Prospenomics.

Enquanto Jornada nas Estrelas mostra os passos para alcançar a Pós-Escassez, "The Culture" explora as consequências dessa liberdade em sua forma mais extrema.

Iain M. Banks criou uma civilização interestelar, quasi utópica, onde a tecnologia (especificamente as IAs superinteligentes, as "Mentes") libertou completamente a humanidade de todo trabalho e necessidade material, redefinindo o propósito da vida.

​Governança pela Inteligência Superior (As "Mentes")

Em The Culture, a civilização é administrada por I.As com capacidade de processamento e previsão muito superior à humana. Elas gerenciam os recursos (naves, habitats, energia) de forma tão eficiente que a escassez se torna impossível. A automação e a I.A. devem ser vistas não apenas como ferramentas de lucro, mas como a próxima camada de administração pública, responsáveis por garantir a distribuição equitativa de recursos, a logística complexa e a alocação de energia, liberando os humanos da burocracia ineficiente e do erro humano.

​O Fim da Corrupção e da Autosserviência

Este é o ponto mais crucial para a Prospenomics. A tecnologia na mencionada na obra liberou o desejo de possuir coisas. Quando qualquer item pode ser criado instantaneamente por replicadores, a acumulação se torna sem sentido.


Atingir a Pós-Escassez total (ou abundância) remove a raiz da corrupção e da autosserviência. Não se rouba o que se pode ter facilmente. Isso sugere que a solução mais eficaz contra a corrupção política e econômica é a abundância material garantida, não apenas a punição.

Sem a pressão de sobreviver ou acumular, a energia dos cidadãos da Cultura é canalizada para o "trabalho" de atingir a plenitude e a complexidade. O esforço humano é dedicado à arte, à ciência, ao aprimoramento físico e mental, e à construção de uma ética e moralidade elevadas.

A administração pública deve ter como objetivo principal a "Liberação do Potencial Humano". Em vez de medir o sucesso pele produtividade, a sociedade deve medir a prosperidade pela quantidade de tempo e recursos que os cidadãos dedicam a atividades de autoaperfeiçoamento e contribuição social que não geram lucro, mas sim desenvolvem capital humano e ético. Isso por si só já seria uma solução poderosa para os dias de hoje.

Em suma, "The Culture" propõe que, ao resolver o problema material com a tecnologia, resolvemos inerentemente o problema ético e moral da sociedade, substituindo a ganância pela busca de significado e excelência, tornando esta obra de 12 volumes uma das melhores ferramentas para o desenvolvimento de uma sociedade verdadeiramente prospenomica.

Laputa, de Castelo no Céu (10), une tradição e tecnologia ao mostrar uma civilização aérea baseada em sabedoria ancestral e engenharia sutil. 

Em Matrix (11), há um alerta valioso: quando a tecnologia é usada para controle em vez de emancipação, ela se transforma em prisão — lembrando que todo avanço técnico precisa vir acompanhado de ética. Já Duna, de Frank Herbert (12), destaca a importância do recurso natural como elemento de governança, algo diretamente comparável à gestão da água na Terra. The Expanse (13) apresenta um sistema político multipolar no espaço, onde alianças são feitas por necessidade ecológica, indicando que cooperação pode ser mais estratégica que dominação. 

Até A Revolta de Atlas, de Ayn Rand (14), embora ideologicamente controverso, oferece um contraponto importante ao mostrar o risco de sistemas que sufocam a inovação individual — lembrando que liberdade e responsabilidade precisam caminhar juntas. E por fim, Jogos Vorazes (15) serve como exemplo de tudo o que um governo não deve ser: centralizador, espetacularizado e desigual — funcionando como alerta permanente contra o autoritarismo mascarado de entretenimento. 

Esses mais de quinze universos mostram que a ficção não é fuga da realidade — é um laboratório para projetar o que ainda não existe. 

Se Santos=Dumont leu Júlio Verne e construiu o avião, então por que Prospenomics não pode ler Star Trek, Fundação, Wakanda e construir o futuro da administração pública?

Prospenomics Da Ficção à Realidade

A Ideia que Nunca Me Abandonou Tudo começou na faculdade. Era o momento de escrever minha monografia de conclusão de curso, e como todo estu...